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sábado, 9 de março de 2013

"Recusa", em cartaz no Itaú Cultural (SP), coloca em xeque mundo 'civilizado'

Atores em cena de "Recusa"

Em um programa de treinamento para uma grande empresa de comunicação, o professor da disciplina de Cultura falava sobre "evolução cultural". Eis que questiono se a cultura europeia seria superior à indígena. Ele parou um instante e disse: "Se considerarmos Cultura como Ciência, podemos dizer que sim. Mas se o seu sentido for puramente moral, talvez seja não a resposta".

Montagem da Cia Balagan, a peça Recusa, em cartaz até amanhã (10/3) no Itaú Cultural, em São Paulo, fez-me voltar a esta questão, cada vez mais latente em mim: na fronteira entre o bárbaro e o civilizado, em qual estágio nos encontramos?

Já que a Arte imita a vida, nada mais justo que ela responda à pergunta que me atormenta. Recusa faz isso - e mais: zomba de nós, nos reduz a pó. Escrito por Luís Alberto de Abreu e dirigido por Maria Thais, o espetáculo foi um dos mais comentados no ano de 2012. Levou o prêmio de Melhor Trabalho Apresentado em Sala Convencional e Melhor Projeto Sonoro pela Cooperativa Paulista de Teatro.

Por sua atuação na peça, os atores Eduardo Okamoto e Antonio Salvador levaram o prêmio de Melhor Ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Além disso, Recusa teve quatro indicações ao Shell (direção, atuação, cenário e música).

O processo de criação da peça começou em 2009 e durou cerca de três anos. Sua equipe conviveu parte desse tempo com o povo indígena Paiter Suruí, na aldeia de Gapgir, em Rondônia.   

O espetáculo conta a história dos índios Pud e Pudleré, únicos sobreviventes da etnia Piripkura, que se acreditava estar extinta há mais de 20 anos. Inspirada na realidade, a peça mostra por que esses índios preferiram a floresta à convivência ou ao contato com o homem branco. É nesse ponto que Recusa coloca em xeque o conceito de civilização aclamado pela tal sociedade do conhecimento: o "progresso" realmente nos civiliza ou nos torna cada vez mais "bárbaros"?

Além  disso, a mostra trata de questões atuais importantes como a demarcação de terras e o desmatamento. Não obstante seu tom político, o espetáculo é quase todo ancorado em causos. Em cena, os personagens brincam, cantam, narram seus sonhos e seu modo de vida "bárbaro" dentro da floresta. Enquanto isso, o riso - aquele de doer a barriga - rola solto. Eles riem mais que nós, homens civilizados.

Serviço:
Recusa - Cia Balagan
Hoje (9/3) às 20h e amanhã (10/3) às 19h
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, São Paulo
Tel.: (11) 2168-1776
Gratuito (ingressos distribuídos com 30 minutos de antecedência)
Mais informações: www.ciateatrobalagan.com.br

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