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Atores em cena de "Recusa" |
Em um programa de treinamento para uma grande empresa de comunicação, o professor da disciplina de Cultura falava sobre "evolução cultural". Eis que questiono se a cultura europeia seria superior à indígena. Ele parou um instante e disse: "Se considerarmos Cultura como Ciência, podemos dizer que sim. Mas se o seu sentido for puramente moral, talvez seja não a resposta".
Montagem da Cia Balagan, a peça Recusa, em cartaz até amanhã (10/3) no Itaú Cultural, em São Paulo, fez-me voltar a esta questão, cada vez mais latente em mim: na fronteira entre o bárbaro e o civilizado, em qual estágio nos encontramos?
Já que a Arte imita a vida, nada mais justo que ela responda à pergunta que me atormenta. Recusa faz isso - e mais: zomba de nós, nos reduz a pó. Escrito por Luís Alberto de Abreu e dirigido por Maria Thais, o espetáculo foi um dos mais comentados no ano de 2012. Levou o prêmio de Melhor Trabalho Apresentado em Sala Convencional e Melhor Projeto Sonoro pela Cooperativa Paulista de Teatro.
Por sua atuação na peça, os atores Eduardo Okamoto e Antonio Salvador levaram o prêmio de Melhor Ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Além disso, Recusa teve quatro indicações ao Shell (direção, atuação, cenário e música).
O processo de criação da peça começou em 2009 e durou cerca de três anos. Sua equipe conviveu parte desse tempo com o povo indígena Paiter Suruí, na aldeia de Gapgir, em Rondônia.
O espetáculo conta a história dos índios Pud e Pudleré, únicos sobreviventes da etnia Piripkura, que se acreditava estar extinta há mais de 20 anos. Inspirada na realidade, a peça mostra por que esses índios preferiram a floresta à convivência ou ao contato com o homem branco. É nesse ponto que Recusa coloca em xeque o conceito de civilização aclamado pela tal sociedade do conhecimento: o "progresso" realmente nos civiliza ou nos torna cada vez mais "bárbaros"?
Além disso, a mostra trata de questões atuais importantes como a demarcação de terras e o desmatamento. Não obstante seu tom político, o espetáculo é quase todo ancorado em causos. Em cena, os personagens brincam, cantam, narram seus sonhos e seu modo de vida "bárbaro" dentro da floresta. Enquanto isso, o riso - aquele de doer a barriga - rola solto. Eles riem mais que nós, homens civilizados.
Serviço:
Recusa - Cia Balagan
Hoje (9/3) às 20h e amanhã (10/3) às 19h
Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149, São Paulo
Tel.: (11) 2168-1776
Gratuito (ingressos distribuídos com 30 minutos de antecedência)
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